segunda-feira, 25 de julho de 2011

O trecho do Evangelho de hoje, que se compõe de três parábolas e uma comparação, encerra uma unidade literária que começamos a ler nos domingos passados; é uma unidade literária com a qual o evangelista visa reunir o núcleo da pregação de Jesus. Veremos em outros lugares do Evangelho narrações de histórias, milagres, admoestações, ensinamentos educativos dados por Jesus aos discípulos e às multidões; enfim, o Evangelho nos mostrará muitos outros aspectos da vida de Cristo, mas o núcleo de sua pregação está contido neste capítulo do qual estamos encerrando a leitura, chamado o capítulo das “parábolas do Reino”.
 Não é por acaso que essa unidade literária é composta por sete parábolas. Isso é indicativo, pois sabemos muito bem que o número sete indicava a plenitude, isto é: além do “sete” não há nada mais a ser acrescentado, pois tudo o necessário está presente. Ao descrever com sete imagens o Reino, o evangelista nos indica que essas sete situações se verificam, antes ou depois, em todas as pessoas que se deixam envolver pelo Reino; são as situações de vida através das quais Deus estabelece o seu reinado nos corações abertos e disponíveis.
Essas últimas três imagens podem nos ajudar a descobrir vários aspectos do Reino e saber reconhecer quando esse se faz presente em nossa vida.
 Nas primeiras duas (a do tesouro e a da pérola) são associados entre si dois personagens que indicam duas maneiras de viver, duas situações existenciais em que os homens desenrolam suas vidas. São dois personagens como muitos de nós: “candidatos” ao reino, antes mesmo que o saibam. O reino está lá, pronto para eles, como uma realidade que existe bem antes que seja descoberta por eles, conhecida e experimentada. É a oferta de Deus aos homens, ela está lá, pronta para ser vivida e aproveitada, fonte de satisfação de todo anseio e  de buscas, às vezes, frustradas. O reino está lá, num lugar ainda desconhecido pelos dois, assim como é desconhecido o projeto de vida que Deus oferece a cada um de nós. A questão que nos aflige, às vezes, é que, não sabendo o que nos é reservado, vivemos a vida como se essa se identificasse apenas com aquilo que estamos fazendo. Parece quase que somos o que fazemos, o cargo que ocupamos, etc. Parece que as pessoas são sempre identificadas por aquilo que fazem - “Em que você trabalha?” - é a primeira pergunta que fazemos a uma pessoa que acabamos de conhecer. Parece, então, que o que fazemos toma conta daquilo que somos. Quase temos a sensação que a sequência das cosias não nos dá mais nem o espaço para abstrairmo-nos da rotina semanal a fim de reencontrar a nós mesmos, as relações familiares, o gosto de “perder tempo” ao lado da pessoa que amamos, simplesmente por gozar de sua presença, sem precisar fazer nada. Até o espaço do domingo, último dia dedicado ao homem e ao respeito de sua transcendência, é objeto de insidia comercial que, sob a desculpa de uma aparente “comodidade”, de fato tenta rebaixar a dignidade dos desejos mais profundamente humanos que continuam garantindo que ele é um ser “livre”.
Era assim que viviam os dos dois personagens do Evangelho: tomados, presos, amarrados por suas próprias atividades. O primeiro possuía as forças de seus braços,  desempenhava cotidianamente seu trabalho, sem muitas perspectivas, pois sabia que dificilmente para ele se abriria uma porta nova. Sua vida era aquilo, estava ali no que fazia para si e para sua família. Provavelmente era uma daquelas pessoas que, não possuindo um status social, cultura, capacidade empresarial, vivia simplesmente daquilo que fazia. O fato de o Evangelho usar a palavra “campo” (em grego to.n avgro.n) indica um terreno cultivado, não um terreno qualquer; o “homem”, então, provavelmente, é um dos lavradores que arrendavam as terras ou que trabalhavam diariamente para alguém.
O segundo homem é bem diferente do primeiro. Além de suas qualidades comerciais, possuía um bom lastro econômico para vender e comprar, sabia reconhecer o valor das coisas, entendia bem da arte de tratar com as pessoas (muito importante no Oriente onde, ainda hoje, o valor de compra e venda é dado pela maneira de tratar sobre o valor do objeto a ser adquirido ou vendido, não tanto ao objeto em si mesmo). Mas no seu trabalho não visava somente ao lucro; numa certa altura o lucro não interessa mais, é demais mesquinho para alguém costumado a ter coisas preciosas em mãos. Para uma pessoa que sabe o que tem valor e o que não tem, aquilo que para muitos é fascinante e atraente, é tedioso. Ele buscava “aquela” pérola, uma pérola que nunca tinha visto, diferente das outras que vira; uma pérola que não usaria corriqueiramente para seus negócios, mas aquela pérola que guardaria para si, só para si, após ter tido inúmeras pérolas entre as mãos. É um personagem que recorda a vida de muitos que buscaram, buscaram até o possível, que conseguiram uma posição através do seu trabalho, do empenho, conseguiram uma vida bem ajeitada... mas ainda sentem falta de algo.
Inesperadamente, ambos os personagens se veem envolvidos por algo muito grande que poderia mudar suas vidas. Aquela porta na qual nem sequer se ousava esperar, aquela porta tão longe quanto uma miragem, de repente, gratuitamente, com grande espanto se abriu e o lavrador encontrou um tesouro no campo em que trabalhava; o comerciante em seu trabalho encontrou também aquilo que podia preencher sua busca já não mais preocupada com o lucro. Tudo podia mudar daquele dia em diante.
É dessa forma que o Reino, a riqueza que Deus preparou para nós vem ao nosso encontro: quando menos o esperamos. Mesmo que o nosso coração já esteja conformado com a situação em que se encontra ou que esteja inquieto na busca de algo que parece até uma quimera, um sonho. Não importa qual seja a nossa condição, o que Deus reservou para nós nos é oferecido numa bandeja, gratuitamente.
As parábolas, contudo, manifestam também qual a correta atitude do homem quando intui estar diante de algo muito precioso. São atitudes necessárias, sem as quais mesmo um tesouro oferecido gratuitamente pode ser perdido. Diante do Reino, Jesus somente aponta uma perspectiva: o risco, aceitar o risco de envolver toda a própria vida. Quanto maior for o envolvimento, tanto maiores serão as chances de possuir o tesouro à disposição. Se não houver risco, se não houver a disposição em jogar tudo por tudo, se ainda desejarmos resguardar alguma coisa porque “nunca se sabe”... então se correrá o risco de não alcançar a importância, o grau de envolvimento suficiente, para poder sentir a alegria de quem não precisa mais de nada, que não precisa sonhar mais com o que é inalcançável. Tanto o primeiro quanto o segundo “vendem tudo o que possuem”, mas não é uma questão imediata, precisa tempo para vender... e o Senhor nos mostra todo dia o que é necessário vender: nossa autossuficiência, pequenas e grandes seguranças às quais estamos apegados, posições adquiridas, os nossos meios usados para alcançar o que queremos...
Muitas coisas, muitas riquezas que ainda possuímos como “o nosso tesouro” podem impedir-nos de adquirir o tesouro que Deus preparou. È condição imprescindível porque, bem no fundo, é a nossa intensidade de aceitar o risco que diz a todos e a nós mesmos quanto algo é importante para nós. Quanto menos aceitarmos correr riscos tanto menos saberemos amar a Deus, e isso não é questionável, é algo objetivo, patente. Perguntemo-nos quanto estamos dispostos a “vender” se quisermos saber quanto Deus é importante para nós.
Contudo, o fato de “vender”, nos diz o Evangelho, não é uma perda, não é um descartar quanto temos; perder não é um valor por si próprio, ele é um valor somente em função da motivação. É essa que deve sempre estar presente diante de nossos olhos. Perder por perder é inútil e insensato, está mais perto do orgulhoso sentimento de satisfação em fazer-se de vítima, do que ao amor.
É o amor pelo tesouro e pela pérola que proporciona a alegria de vender. Por sua vez, o ato de vender, quando carregado de amor, se transforma em alegria, pois a cada vez nos diz quanto o Reino se faz presente em nossa vida, quanto Deus nela reina. Quando não quisermos perder nada, estaremos também declarando a nós mesmos qual é a consistência da nossa vida de fé!

Um santo e feliz domingo a todos. 
Vocês todos fazem parte da minha vida e moram no meu coração.
Que Deus lhes abençoe hoje e sempre!!
De:CATEQUESE !!! (mail@jorgekontovski.ning.com)
Enviada:domingo, 24 de julho de 2011 19:50:07
Para: vivialeticia23@hotmail.com (vivialeticia23@hotmail.com)


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